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Steve Jobs, a ansiedade de separação e o que a empatia poderia ter feito


A natureza humana é gregária. Assim, uma das nossas principais necessidades diz respeito ao chamado senso de pertencimento, uma condição de sentir que fazemos parte de algo maior e mais significativo que a própria existência. Provavelmente, é por isso que decidimos, em algum momento de nossa história, viver em sociedade. No entanto, por que é frequente encontrarmos tanta dificuldade no trabalho em equipe?

O comportamento organizacional prima pela eficiência e busca transformar grupos em equipes de trabalho. Quando duas ou mais pessoas com interesses e objetivos comuns interagem com certa frequência, forma-se um grupo. Porém, quando um grupo de pessoas que possuem uma série de competências diferentes e que se complementam, estão envolvidas com um mesmo propósito e há uma noção compartilhada de responsabilidade mútua, neste caso, estamos lidando com uma equipe de trabalho.

A empatia deve se configurar como um pré-requisito para elevar o que seria um mero grupo de pessoas para o nível de uma autêntica e produtiva equipe de trabalho, pois a capacidade de sentir o que outra pessoa sentiria caso estivesse em seu lugar, aparenta ser uma condição primária para alguém decidir compartilhar suas competências em busca de complementar-se na busca da realização de um propósito em comum.

Porém, essa empatia, tão necessária, consiste em uma habilidade que, como qualquer outra, necessita de muita dedicação e treinamento para ser realizada com excelência. Avalie, por exemplo, o nível de dificuldade imposto à habilidade empática quando lidamos com uma personalidade "mercurial"?

Acredito que, se o filósofo e médico romano, Cláudio Galeno, tivesse a oportunidade de conhecer o ícone da Apple, Steve Jobs, ele, provavelmente, diria que o americano sofria de um caso clássico de desequilíbrio de humores, no qual o temperamento colérico teria dominando sua personalidade.

Galeno e Jobs nunca se conheceram! Nem seria possível um encontro desses, pois o romano morreu, no início do terceiro século da Era Cristã, em 201 d.C., enquanto que o norte-americano nasceu mais de 1.750 anos depois. Galeno foi um dos precursores da Teoria da Personalidade, muito antes da própria Psicologia surgir e dominar, com maior propriedade o tema, enquanto que Jobs marcou nossa história, com a revolução dos microcomputadores.

Steve Jobs teve sua personalidade retratada de forma brilhante no filme homônimo (2015), dirigido por Danny Boyle e estrelado por Michael Fassbender. Na produção, que retrata três momentos culminantes da carreira do empreendedor do Vale do Silício, é possível aproximar-se daquilo que foi sua personalidade e, para os mais atentos, dos aspectos que a fundamentaram.

Segundo o psicólogo, médico e psicanalista londrino, John Bowlby, “o amor materno na primeira infância é tão importante para a saúde mental quanto vitaminas e proteínas para a saúde física”. Ele formulou a chamada Teoria do Apego.

De acordo com esta teoria, os bebês humanos, quando separados de seus cuidadores primários – geralmente a mãe – vivenciam uma experiência que ele intitulou de “ansiedade de separação”. Este fenômeno, por sua vez, se dá em três estágios: no primeiro, quando o cuidador estiver longe da vista, o bebê chora, resiste a qualquer conforto de outra pessoa e procura por seu cuidador (estágio do protesto); na segunda fase, quando a separação continua, os bebês ficam quietos, tristes, passivos, indiferentes e apáticos (estágio do desespero); e, por último, o bebê torna-se desapegado emocionalmente das outras pessoas, incluindo seu cuidador (estágio do desapego).

Na ansiedade de separação, em última análise, aquele bebê se torna um adulto que interage com outras pessoas com pouca, ou nenhuma emoção, apesar de parecer sociável. Entretanto, suas relações interpessoais serão superficiais e com baixos níveis de afetividade.

De volta à Steve Jobs. No filme, descobre-se que ele fora adotado, em um processo repleto de complicações: primeiro, sofreu a separação de sua mãe biológica, em seguida, o primeiro casal de pais adotivos desistiu da adoção (apenas um mês depois!!!) e, só então ele foi adotado enfim por aqueles que seriam seus pais definitivos, com quem ele viveu até sua vida adulta. No entanto, a mãe adotiva, em definitivo, de Jobs teria se recusado a amá-lo durante todo o primeiro ano, pois houve uma disputa judicial, uma vez que o perfil daquele casal não era compatível com o que havia sido determinado por sua mãe biológica e ela não queria sofrer demais, caso perdesse aquela disputa legal.

Jobs foi um gênio, um empreendedor de mão cheia, com apostas e vitórias que inspiraram toda uma geração no mundo dos negócios. Entretanto, trabalhar em sua equipe nunca foi uma tarefa fácil, ou divertida. Reconhecido por sua frieza e desapego com seus parceiros mais próximos, não é possível idolatrá-lo por seu modelo de liderança e de trabalho em equipe. No entanto, sua genialidade o fez capaz de coisas incríveis. No fim, é incontestável que ele deixou sua marca no universo.

Agora, você conseguiria imaginar as coisas mais incríveis que Steve Jobs seria capaz de ter ajudado a criar, caso tivesse uma equipe formada, não apenas por seguidores de sua genialidade, que suportavam seu temperamento colérico, mas também por profissionais competentes, altamente capacitados e, principalmente, com muita habilidade empática? Acho que seria algo extraordinário, se as pessoas tivessem mais empatia.

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